quarta-feira, 4 de junho de 2008

Energia

ENERGIA: PRINCIPAL CAUSA DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS


Um dos problemas mais sérios para o meio-ambiente e de dimensão global são as mudanças climáticas observadas no nosso planeta. Confirmando o conceito de indivisibilidade do meio-ambiente, estas mudanças estão alterando o clima da Terra e produzindo conseqüências em cadeia que agridem o meio-ambiente e o equilíbrio dos ecossistemas e afetam a saúde humana.

A destruição dos corais na Austrália, o derretimento do gelo em estações de ski, as ondas de calor na França e na Grécia e possivelmente o furacão Catarina que assolou a costa de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul no Brasil são fenômenos atribuídos às mudanças climáticas. No contexto deste problema, surge a questão levantada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) de que estas mudanças estão trazendo riscos para a saúde do ser humano.[1][1]

Desde a Revolução Industrial, no final do séc. XIX, as ações antrópicas se intensificaram e têm sido responsáveis por uma alteração mais agressiva e mais rápida do meio-ambiente e dos climas locais e regionais. O crescimento populacional e o desenvolvimento em escala global aumentam cada vez o consumo e a quantidade de energia que usamos para produzir o que precisamos.

Não podemos prescindir da energia para o desenvolvimento econômico e social e para melhorar a nossa qualidade de vida. A energia gera conforto, bem-estar e renda, mas ao mesmo tempo polui o ambiente, produz resíduo e altera o clima do planeta de tal forma que constitui uma das questões mais sérias no cenário internacional.

IMPACTOS DA ENERGIA NO MEIO-AMBIENTE

As atividades humanas vêm alterando o clima da Terra e desde o final dos anos 1880, a temperatura da superfície terrestre já subiu cerca 0.6º, esperando-se que aumente de 1.4º a 5.8º graus até 2100. [2][2] A principal razão do "aquecimento global" é o processo de industrialização com a queima de quantidades cada vez maiores de óleo, gasolina, carvão, corte de madeira e alguns métodos de agricultura.

Em artigo publicado pela revista científica Nature, a atual concentração de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera é a maior dos últimos 440 mil anos e de acordo com a pesquisa em gelo coletado por uma sonda no continente antártico, a temperatura global nunca subiu tão rápido quanto nos últimos 200 anos (Fig. 1).

O resultado é o "efeito estufa", conhecido internacionalmente como greenhouse effect e que ocorre devido à emissão de gases nocivos, principalmente o CO2, proveniente da queima de combustíveis fósseis e da lenha e outros como o metano (CH4), clorofluorcarbonetos (CFCS) e o óxido nitroso (N2O).

Estes gases são essenciais para a vida na terra, uma vez que mantém uma parte do calor do sol do que é refletido de volta para o espaço e permite o desenvolvimento da vida aqui. O problema é que o excesso de gases está provocando um aumento artificial da temperatura global e alterando o clima.

Os níveis das águas

No sul do Oceano Pacífico, a ilha de Tuvalu sofre com o aumento dos ciclones na última década, causados pela elevação da temperatura das águas superficiais do oceano, o que provoca também maior ocorrência de tempestades. A elevação da água do mar inunda as áreas mais baixas, com a água salgada contaminando a água potável e a agricultura.

A Holanda, cheia de diques no Mar do Norte, faz monitoramentos constantes para acompanhar o nível de elevação das águas. Um dos mais respeitados trabalhos sobre as tendências dos níveis marítimos é o de Bruce Douglas, Global Sea Level Rise, considerando uma elevação global do nível do mar em 1.8 milímetros por ano. No Brasil, trabalhos do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo, observaram uma taxa de elevação de 4,1 milímetros por ano no litoral sul do Estado

O derretimento do gelo
O fenômeno acontece tanto no Pólo Norte quanto no Pólo sul, sendo mais preocupante na Antártida, onde as geleiras estão sobre o continente. A região concentra 90% de todo o gelo terrestre e segundo o IPCC, o mar subiria 60 metros. Segundo publicado na revista Science, as geleiras do Hemisfério Norte também influenciam no aumento das águas. A cada ano, por exemplo, o derretimento das geleiras no Alasca eleva em 0.02 milímetros o nível dos oceanos.

Dados coletados pelas imagens dos satélites no Brasil e monitorados pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, apontam para um aumento de temperatura, o desprendimento de icebergs e o recolhimento das geleiras.
Microclima
Segundo Augusto Pereira Filho, professor de ciências atmosféricas, o clima da de São Paulo mudou com a urbanização dos últimos 50 anos. Essas alterações no microclima se repetem em todas as grandes cidades com o aumento da temperatura e a diminuição da umidade, causados pela falta de área verde, pelo concreto e asfalto, pela construção de prédios que impedem a ventilação e pelo aumento da atividade industrial e da poluição proveniente dos carros.
Altas temperaturas

Nos últimos 150 anos, o primeiro semestre de 2002 foi o mais quente, desde quando começaram as medições pelo escritório de Meteorologia do Reino Unido. Os modelos numéricos usados indicam mudanças na temperatura causadas pelo efeito estufa que concentram mais energia na atmosfera, como um "cobertor" sobre o planeta.

O Hadley Centre no Reino Unido prevê um cenário catastrófico em que no ano de 2050, o superaquecimento da Terra causado pela emissão de gases, irá provocar um desequilíbrio ecológico na Floresta Amazônica, que morreria asfixiada. As altas temperaturas aumentariam o número de microorganismos no solo, que passariam a emitir um excesso de dióxido de carbono contribuindo para aumentar o efeito estufa.

No verão de 2003 cerca de 22 mil pessoas morreram na Europa devido a uma extraordinária onda de calor e a Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que 160 mil pessoas estejam morrendo por causa do aquecimento global. Podemos dobrar este número até 2020, contabilizando-se catástrofes naturais e doenças a elas relacionadas. Em artigo publicado na revista Science, o epidemiologista Andrew Dobson explica que "as mudanças climáticas estão danificando os ecossistemas naturais de uma forma que tornam a vida melhor para as doenças infecciosas. As evidências acumuladas nos preocupam muito".


A CONSCIENTIZAÇÃO INTERNACIONAL

Em 1992, por ocasião da Conferência das Nações Unidas sobre Meio-Ambiente e Desenvolvimento, no Rio de Janeiro, foi aprovada a Convenção Quadro das Mudanças Climáticas (United Nations Framework Convention on Climate Change) em função da constatação das concentrações dos "gases estufa" e seus efeitos no clima do planeta. Junto com o Protocolo de Kyoto, aprovado por 160 países em 1997, estes acordos limitam as emissões dos gases nocivos, além de cobrar uma maior eficiência na utilização da energia e de estimular soluções de alternativas energéticas.

A melhora da eficiência energética industrial contribui para uma maior credibilidade das empresas em termos de proteção do meio-ambiente e do desenvolvimento sustentável. Uma política de mitigação dos efeitos das mudanças climáticas no mundo depende de usarmos mais eficientemente a energia e de encontrarmos tecnologias para renovação de energia em todas as economias.

Estas questões relacionadas à energia e às mudanças climáticas têm sido abordadas pela organização encarregada do desenvolvimento industrial na ONU , (UNIDO -United Nations Industrial Development Organization) e entre as suas preocupações estão: a melhora da eficiência energética industrial, a redução dos gases GHG (greenhouse gases), os projetos de energia renovável, serviços modernos de energia para os países menos desenvolvidos e projetos MDL - mecanismos de desenvolvimento limpo, definidos no Artigo 12 do Protocolo de Kyoto.

Pelo Protocolo, quem polui deve assumir financeiramente as conseqüências do ato. Os países mais desenvolvidos e, portanto, os maiores poluidores desde a Revolução Industrial devem pagar pelos prejuízos ao meio-ambiente ou investir em compensações, como a recuperação e a manutenção das áreas verdes, a maior parte nos países pobres.

Em 1990 e em 1996 o IPCC [3][3]ou Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas lançou dois relatórios importantes de avaliação do clima global e dos fatores a ele relacionados. Neles foram observadas as presentes mudanças e as tendências do sistema climático, incorporando-se a análise feita em modelos que podem atribuir causas às mudanças e simular as mudanças futuras criadas pelo homem no sistema climático.

Ao fazer uma avaliação das informações, o IPCC não estabelece nenhuma política pública, apenas coleta todas as informações referentes às atuais mudanças e o processo envolvido nestas mudanças, analisando o passado e as tendências atuais e futuras.

O QUE NOS ESPERA

Podemos esperar que a necessidade de energia do mundo deva dobrar ou triplicar até 2050. À medida que a população mundial cresce e os países em desenvolvimento expandem as suas economias e superam a pobreza, o consumo de energia aumenta e com ele os riscos trazidos pelas emissões poluentes. Como superar este impasse e quais as opções para assegurar o uso de sistemas sustentáveis de energia?

Em 6 de setembro de 2004, no Congresso Mundial de Energia na Austrália, foi lançado um documento pelo Conselho Mundial de Negócios para Desenvolvimento Sustentável , World Business Council for Sustainable Development (WBCD)[4][4], intitulado Fatos e Tendências até 2050: Energia e Mudanças Climáticas que aborda estas questões.

Baseado no cruzamento de dados entre indústrias líderes, o estudo revela como podemos atingir sistemas sustentáveis de energia e infra-estruturas e quais os dilemas implicados por estas mudanças na sociedade e nos negócios.

Uma das propostas seria aceitar um nível de crescimento econômico mais baixo que garantisse a sustentabilidade e ao mesmo tempo diminuísse a pobreza. O estudo declara que para os países em desenvolvimento melhorarem o seu padrão de vida, os países ricos devem aumentar a sua eficiência e o desenvolvimento tecnológico nos seus sistemas energéticos.

ALTERNATIVAS ENERGÉTICAS

Os sinais de conscientização do problema das mudanças climáticas já estão aparecendo na diminuição do uso dos combustíveis fósseis e na introdução de novas formas de energia renovável e formas mais eficientes para o consumo de energia.

Energia eólica

Uma das alternativas energéticas que desponta como uma solução economicamente viável é a energia eólica. Adotada por vários países, ela transforma a energia dos ventos em eletricidade. Na Alemanha, líder mundial no uso desta energia, são cerca de quinze mil cata-ventos[5][5] e no caso da redução ou da ausência dos ventos, há cobertura imediata de outras centrais energéticas. Esta alternativa tem, portanto limitações, além da poluição visual.

Biomassa

Outra solução é a energia produzida por fontes de biomassa como o álcool gerado pela cana de açúcar, os óleos combustíveis extraídos da soja ou o gás metano emitido nos depósitos de lixo. Esta alternativa exige o cuidado de que a vegetação utilizada para sua produção seja substituída, propiciando uma nova captura das emissões de dióxido de carbono pelo processo de fotossíntese.

O Biodiesel

No Brasil, Instituto Virtual Internacional de Mudanças Globais (IVIG) da COPPE está desenvolvendo um projeto pioneiro de grande importância para o meio ambiente. Trata-se de transformar óleo vegetal novo ou usado em combustível.

Os primeiros testes começaram a ser feitos, reaproveitando o óleo vegetal usado para frituras pela rede MacDonald que se tornou parceira da COPPE no projeto. Os óleos residuais aproveitados poderão substituir o diesel, reduzindo 78% da emissão de CO2, o gás poluente que causa o efeito estufa e 100% de enxofre na atmosfera.

Os benefícios ambientais são expressivos e segundo o coordenador do projeto, Luciano Bastos, o uso do biodiesel pode gerar benefícios ao país, que consome anualmente 26 bilhões de litros de óleo diesel e lança 70 milhões de toneladas de gás carbônico na atmosfera.

Energia Nuclear

A energia nuclear não emite os gases que provocam o efeito estufa, mas traz outros problemas que dizem respeito à segurança pública, ao transporte adequado para o lixo nuclear e sua destinação final. Existe também o risco de contribuir para a proliferação das armas nucleares e seu uso pelo terrorismo.

CONCLUSÃO

Não dá para negar os efeitos produzidos pelo desenvolvimento industrial no clima da Terra. As alterações climáticas estão cada vez mais visíveis e os seus resultados começam a assustar. Ao mesmo tempo, o homem usa cada vez mais a energia para atender às suas necessidades. Conciliar o progresso e o conforto exigidos pelo homem com um sistema de energia eficiente e sustentável é o nosso desafio.

O que o futuro nos reserva vai depender em grande parte da nossa capacidade de lidar com esta proposta e resolver a equação do desenvolvimento sustentável com energia eficiente. As alternativas energéticas já mostram resultados expressivos em termos de economia e de preservação ambiental, mas têm também suas limitações.

O mercado de créditos de carbono é uma invenção criativa para lidar com a situação em termos do passivo gerado pelos países desenvolvidos , ao colocar um valor de mercado para a redução das emissões de carbono, para as formas de energia renovável e para os projetos que usem a energia de forma eficiente.

Outras alternativas aliadas à intensa pesquisa tecnológica ainda estão por vir e de qualquer forma o passo mais importante já foi dado, no sentido de desenvolver ações que visem a mitigar o problema e restabelecer o desequilíbrio causado pelas mudanças climáticas. Persistir neste caminho é um compromisso fundamental para garantir a preservação do meio-ambiente e o nosso bem-estar futuro.

Referências Bibliográficas

BBC, Pesquisa revela que concentração de C02 na atmosfera é a maior dos últimos 440 mil anos, 11/06/ 2004.

Com.Ciência, Quem será beneficiado pelos créditos de carbono?
http://www.comciencia.br/

DA COSTA, Antonio Luiz M. C., Silêncio de Ensurdecer, a mídia custa a dar voz ao debate científico sobre o aquecimento global, Carta Capital.

Época, Aumento da Temperatura ameaça várias espécies com doenças - inclusive o homem, 26/03/02.

Energy 2050: which options for change?
http://www.wbcsd.ch/plugins/

Greenpeace, Mudanças Climáticas na Telelona, maio 2004.
http://www.greenpeace.org.br/energia

IPCC, Climate Change 2001, Synthesis Report, Summary for Policy Makers,

LEMOS, Haroldo Mattos de, A Evolução da Questão Ambiental e o Desenvolvimento Sustentável, apostila do curso Gestão Ambiental 2004, UFRJ/PNUMA.

LEMOS, Haroldo Mattos de, Mudanças Climáticas, apostila G.A. 2004, UFRJ/PNUMA.

FALLOW, Brian, New Zeland Herald,
Demand for carbon credits exceeds supply, 1/11/2003.

United Nations Industrial Development Organization, Sustainable Development and Climate Change
http://www.unido.org/doc/5067 http://www.unido.org/doc/5067

United Nations Framework Convention on Climate Change, Feeling the Heat,
http://unfccc.int/2860.php

[1][1] OMS, OMM e PNUMA Resumen Cambio Climático y la Salud Humana: Riesgos e Respuestas, 2003.
[2][2] United Nations Framework Convention on Climate Change, Feeling de Heat, http://unfccc.int/essential_background/
[3][3] O IPCC foi criado em 1988 pela World Meteorological Organization (WMO) e pelo United Nations Envirronment Programme (UNEP) para avaliar as mudanças climáticas.

[4][4] O WBCD é um conjunto de 175 companhias internacionais comprometidas com o desenvolvimento sustentável.

[5][5] BRITO, Osório. "Alemanha, um bom exemplo do emprego da energia eólica" Rio de Janeiro. Portal GD, 06 de setembro de 2004.

Elizabeth de A. Ramos (Curso Pós Graduação em Gestão Ambiental -UFRJ)

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